Em palestra no 15º Concred, psicóloga Juliana Bley disse que travessia é processo necessário para resiliência.
Nem sempre podemos escolher quando uma crise ou uma transição vai acontecer, mas é possível escolher a forma de vivenciar essa experiência. Num mar raivoso de mudanças, uma cooperativa pode optar por naufragar ou ser a dona do leme – a responsável pelas decisões e direções a seguir.
Desenvolver habilidades para atravessar cenários instáveis foi o tema da palestra da psicóloga Juliana Bley no segundo dia do 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred), em Belo Horizonte.
Mestre em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Juliana Bley afirma que o mundo e as pessoas estão em um momento de profundas transformações, o que requer novas formas de pensar e agir. Na avaliação dela, é necessário conectar cuidado com resultado e, diferentemente do senso comum, é preciso abraçar o caos.
“Como enfrentar uma situação extrema? Como a gente se organiza? É preciso uma escolha consciente de reunir recursos para fazer frente a uma situação inesperada. O primeiro impulso é fugir, se proteger ou lutar. É normal que, nesses momentos, a gente ative mecanismos de sobrevivência. Mas, ao contrário, abrace o caos. Relaxe na falta de chão para encontrar sabedoria nas águas de ondas gigantes”, sugere a psicóloga.
Citando o filósofo Edgar Morin, a especialista definiu o atual momento como “um tempo de policrises”, conceito que abrange dificuldades interligadas e sobrepostas.
“Talvez nunca na nossa história tenha sido tão estratégico desenvolver métodos e saber como enfrentar situações críticas. Nossa geração está sendo convocada a aprender, respirar, ter saúde mental e cuidado com o mundo enquanto tudo se transforma ao nosso redor.”
Por esse motivo, segundo ela, é preciso, cada vez mais, nos tornarmos gerenciadores de crise, atravessando mares turbulentos.
“A travessia é uma metáfora para processos, crises, mudanças e cenários caóticos. É um processo com várias etapas. Em uma nova crise podemos ter mais repertório para lidar melhor com as situações”, explica.
Diferentemente do senso comum, Juliana Bley afirma que nem todas as pessoas estão no mesmo barco ao lidar com as crises que atingem a sociedade. “É sempre importante lembrar que cada um sabe onde dói e o quanto custa lidar com enfrentamento de crises. Cada um viveu uma pandemia diferente. Cada um sabe dos seus desafios. É um caminho individual , mas não é solitário o que pode nos dar forças”, declarou.
COOPERATIVAS MAIS FORTES
Falando para uma plateia repleta de líderes cooperativistas e gestores de equipes, a especialista destacou a importância de nos tornarmos protagonistas de travessias, cuidando das pessoas, trabalhando em rede e colocando o coração em todas as decisões.
“Gestão é concentrar recursos a favor de um objetivo. Usar os recursos que temos para que a travessia seja a mais tranquila possível. A gente escolhe construir um mundo mais sustentável, mas isso requer esforço e pensamento estratégico.”
Segundo Juliana, cenários caóticos levam a aprendizados que não seriam possíveis em “terra firme”, ou seja, situação sem conflito. “Processos de crises, transições e mudanças nos transformam. No meio do caos, a gente descobre quanta força, solidariedade e recursos a gente tem.”
Entretanto, a especialista destacou que esses momentos de mudança podem ativar gatilhos emocionais nas pessoas: medo, estresse, frustração, depressão, ansiedade, confusão e raiva. E que os gestores devem estar atentos à saúde mental dos colaboradores. “Estamos perdendo dois bilhões de dias de trabalho por ano por ansiedade e depressão”, afirmou citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a especialista, ambientes de trabalho podem e devem ser mais humanos. “Não é transformar o ambiente de trabalho em um grande consultório de psicologia. Mas a gente precisa ser mais humano nos nossos ambientes, mostrar apoio e se preocupar com o outro.”
Orientações para a travessia Para fechar sua palestra no 15º Concred, Juliana Bley deu seis dicas para que gestores de cooperativas – barqueiros na travessia do mar de crises – possam chegar do outro lado da margem cuidando de suas equipes. 1- Invista no autocuidado: é preciso minimizar o sofrimento e maximizar o bem estar. Invista na sua autorregulação emocional. Hoje em dia, segundo ela, é possível encontrar dicas e conteúdos em apps e cursos online. “Aprenda a recuperar o eixo com técnicas de relaxamento e respiração.” 2- Acolha a si e ao outro: evite julgamentos apressados. O acolhimento conecta. O julgamento afasta. 3- Preste atenção nas escolhas: evite a impulsividade. Pequenas escolhas devem ser rápidas. Grandes escolhas devem ser feitas de forma cautelosa. 4- Busque ajudas que realmente ajudam: a receita para manter a saúde mental é atividade física e rede de apoio. Cultive relações com pessoas que você pode contar – pode ser família, amigos ou profissionais. “Tenha suporte e socorro para voltar a respirar quando as coisas ficarem difíceis”. 5- Mantenha abertura e confiança na vida: tenha esperança de que, depois de enfrentar as ondas do mar bravo, você poderá sentar em sombra fresca e desfrutar do novo. Tenha esperança no que está sendo construído e não só no que está sendo destruído. 6- Espaço seguro: Tenha um lugar seguro dentro de você, quentinho e acolhedor, para situações de crise e caos. |
SOBRE O CONCRED
O 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred) é um evento organizado pela Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras); correalização do SICOOB; apoio institucional do Sistema Ocemg e do Banco Central do Brasil; patrocínio master do Sistema OCB; patrocínio do Sebrae e BNDES — banco de desenvolvimento do Governo Federal. A iniciativa conta com investimento de todos os sistemas de cooperativas de crédito e outros parceiros, totalizando cerca de 70 organizações que acreditam no evento e no poder transformador do coop financeiro.