Ligia Zotini participou do 15º Concred e defendeu harmonia entre solidez e flexibilidade.

 

 

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Quando você pensa no futuro, o que vem a sua mente? Novas máquinas, tecnologia de ponta e inteligência artificial certamente estão nessa lista. Há, entretanto, um importante elemento que não pode ficar de fora: o protagonismo humano. A avaliação é da pesquisadora Ligia Zotini, que participou do 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred), em Belo Horizonte, com a palestra Tecnologias sintéticas & Tecnologias humanas: cenários de futuros. 

“Toda vez que a gente fala de cenários futuros, estou falando de áreas importantes como novas tecnologias, mas também de novos humanos. Na dança entre um e o outro é que se geram novos ecossistemas e novas economias. É quando a gente começa a precisar fazer mapas de integração para entender qual é o equilíbrio, tanto tecnológico quanto humano, e consegue projetar figuras desejáveis: a minha melhor versão com o próximo passo”, afirmou a pesquisadora,

Segundo Ligia Zotini, em um cenário de transformações exponenciais – cada vez mais rápidas e disruptivas – nem todas as pessoas estão no mesmo ponto da linha do tempo. 

“Tem gente, por exemplo, que está parada na década de 1990, onde as caixinhas eram organizadas, havia muita ordem, hierarquia, onde tudo era lento. Na frente da pessoa, tudo mudou, mas ela ainda tenta manter aquele nível de controle e aquela velocidade das coisas”, explicou a especialista para a plateia de cooperativistas. 

“Assim como eu acredito que na sua organização, no seu ecossistema, também tem aqueles que vivem lá no futuro já, em 2050, 2060, que querem colocar tudo muito rápido no presente. E, ademais das boas ideias, falta maturidade de time, falta maturidade de organização. Então, toda vez que a gente vai falar de inovação, eu preciso falar de como isso se aplica na economia”, completou.

Na avaliação da especialista, nesses novos tempos, é preciso fazer um balanço entre hard economy e soft economy. Mas, diferentemente da tradução comum, ela explica hard como solidez (e não como duro) e soft como flexibilidade (e não como leve).

“O que é que não ficou velho, que é sólido, e precisa trazer pro momento presente? E o que é preciso flexibilizar para que a inovação chegue?”, questionou. 

Segundo Ligia Zotini, as organizações precisam encontrar esse equilíbrio e não trabalhar como se esses conceitos fossem antagônicos. Nesse contexto, a idéia de hard economy está ligada ao tradicional, ao burocrático, ao excesso, ao hiper-consumismo ou hiper-acúmulo, ao conhecimento fragmentado e ao paradigma do comando-controle. 

Já no soft economy, as características são ligadas à inovação, ao olhar adiante, à flexibilidade, a uma leveza sutil, a um abandono das coisas materiais. 

“Vamos sempre lembrar de hard como solidez, e ela é importante, porque tem método, modelo, inferência, segurança. Coisa que não envelhece, que a gente já testou bastante, e a gente vai precisar, principalmente em instituições como as cooperativas, altamente reguladas, que têm uma série de coisas que a gente precisa respeitar. E, geralmente, quando você fala de grandes organismos como cooperativas, não dá para fazer 100% de soft economy. Organizações complexas são híbridas”, comparou. 

O importante, de acordo com a pesquisadora, é saber em que momento aplicar a flexibilidade tão necessária na soft economy, ou seja, ter mentalidade flexível para investir em projetos inovadores que mantenham a solidez do negócio. “A gente não vem treinado de fábrica nas nossas escolas para ter flexibilidade”, ponderou. 

FUTURO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 

Ligia Zotini também defendeu o equilíbrio entre tecnologia e humanidade para o futuro das organizações, mas destacou que o cenário atual é de protagonismo das máquinas em detrimento das pessoas. Fenômeno que, segundo ela, se acirrou nos últimos 10 anos com o aparecimento de duas tecnologias: as telas inteligentes em formato de celular e o pacote de dados. “Foi assim que  a gente se tornou móvel e híbrido, não só porque eu posso fazer coisas no digital e no mundo físico, mas porque a nossa atenção é híbrida. Quem está comigo aqui nessa conversa no palco, está no mundo biológico. Mas se você está no celular, sua atenção está em outro lugar”. 

Apesar da velocidade das mudanças e das tecnologias científicas ao nosso redor, a especialista afirma que a inteligência artificial – grande aposta do mundo da tecnologia – nunca será capaz de ter consciência como um ser humano.  

“O sonho de uma inteligência artificial é ter o cérebro de cada um de vocês, que fala um pouquinho, descansa um pouquinho, toma água e faz sinapses neurais elegantérrimas. Sinapses neurais são o sonho de uma inteligência artificial. Para aqueles que têm medo de a inteligência artificial ganhar consciência, ela não vai. Consciência não é mistura de repertório. Enquanto a máquina de IA generativa vai emitir e vai misturar repertório do passado, os humanos vão ser liberados para trazer misturas e repertórios do futuro”, explicou.

“Então, de todas as tecnologias humanas, a consciência é diferente dos animais e vai seguir diferente das máquinas. E essa é a nossa aposta para esses novos humanos”, concluiu.

SOBRE O CONCRED

O 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred) é um evento organizado pela Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras); correalização do SICOOB; apoio institucional do Sistema Ocemg e do Banco Central do Brasil; patrocínio master do Sistema OCB; patrocínio do Sebrae e BNDES — banco de desenvolvimento do Governo Federal. A iniciativa conta com investimento de todos os sistemas de cooperativas de crédito e outros parceiros, totalizando cerca de 70 organizações que acreditam no evento e no poder transformador do coop financeiro.