Especialista destacou exemplo do padre Theodor Amstad, patrono do cooperativismo.

 

 

 

É preciso desenvolver líderes destemidos e com cultura de coragem para que as cooperativas sejam organizações cada vez mais inclusivas. A avaliação é da socióloga e pesquisadora Gisele Gomes, que participou nesta sexta-feira (9) do 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred). 

Um bom exemplo desse tipo de liderança, segundo ela, é o padre Theodor Amstad, patrono do cooperativismo brasileiro. “Havia um problema grave de mortalidade materna que impactava as comunidades. O padre contratou um médico em uma cidade mais distante para fazer um curso de formação de parteiras e isso acabou por reduzir a mortalidade das mães”, relatou.

“Isso estava no job description do padre? É claro que não. Isso é liderança transformadora, regenerativa, cooperativa e inclusiva. Isso é algo que a gente chama de integridade. Integridade é escolher coragem em vez de conforto”, completou.

Especialista em culturas inclusivas, equidade e diversidade nas organizações, a palestrante afirmou que apenas líderes destemidos e com cultura de coragem poderão fazer mudanças estruturais para tornar as cooperativas financeiras espaços mais abertos a todos.  

“É fácil dizer: todo mundo dentro e ninguém fora. Mas como fazer isso dentro da minha comunidade? É preciso coragem.” 

INCLUSÃO E DIVERSIDADE 

Durante sua palestra no 15º Concred, Gisele Gomes também afirmou que os cooperativistas devem estar imbuídos de “ética amorosa” – vontade de se empenhar ao máximo para promover o próprio crescimento ou de outra pessoa -, assim como o padre Theodor Amstad. 

“Eu estou aqui de passagem ou estou para fazer algo que realmente vai impactar a minha vida e a das outras pessoas? Isso é liderança transformadora”, explicou. “Para isso, é necessário estar empenhado em incluir os diferentes. A diferença é o que faz a riqueza. Não somos iguais”. 

Nesse contexto, a inclusão de refugiados, mulheres, pessoas com deficiência e de diferentes raças precisa estar na agenda do cooperativismo, segundo a especialista. Com diferentes vivências, essas pessoas poderão contribuir – cada uma à sua maneira – para a chamada “diversidade cognitiva”. 

Ouvir as pessoas genuinamente é outro predicativo de um bom líder, segundo Gisele Gomes. “Quando a gente está criando uma liderança transformadora, regenerativa e inclusiva, a gente precisa escutar as pessoas. Não é a partir da minha premissa”, destacou.

Ela citou ainda o caso de um cooperado surdo que, durante dois anos, trabalhou em um lugar em que ninguém se comunicava com ele. Agora, trabalha em uma cooperativa de crédito e se emocionou ao saber que seus colegas estavam fazendo curso de Língua Brasileira de Sinais (Libras) para que pudessem se conectar. “Isso é ser uma cooperativa aberta para todas as pessoas”. 

Além de inclusão, a pesquisadora destacou que as lideranças transformadoras desenvolvem estratégias de pertencimento e criam ambientes de trabalho com segurança psicológica.

SOBRE O CONCRED

O 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred) é um evento organizado pela Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras); correalização do SICOOB; apoio institucional do Sistema Ocemg e do Banco Central do Brasil; patrocínio master do Sistema OCB; patrocínio do Sebrae e BNDES — banco de desenvolvimento do Governo Federal. A iniciativa conta com investimento de todos os sistemas de cooperativas de crédito e outros parceiros, totalizando cerca de 70 organizações que acreditam no evento e no poder transformador do coop financeiro.