Tecnologia revolucionária depende de bancos de dados abrangentes e qualificados.

A Inteligência Artificial (IA) é a grande tecnologia estratégica do século 21. Reconhecer seus potenciais e saber aplicá-los em soluções negociais será um imperativo de empresas que querem inovar nos próximos anos. Para isso, é preciso enfrentar o medo e a resistência iniciais e se aprofundar no conhecimento dessa ferramenta. Esse foi o recado da professora Dora Kaufman durante o painel “Inteligência Artificial: quais são os desafios para as cooperativas financeiras?”, no 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred).

“Quanto mais a gente conhece, mais a gente se sente à vontade e sabe lidar com aquilo que nos tira da zona de conforto. E a Inteligência Artificial é algo novo. Minha missão aqui hoje é transmitir a lógica dessa tecnologia, a partir daí fica mais fácil de implantar, utilizar e interagir com as soluções”, afirmou a professora do Programa Tecnologias da Inteligência e Design Digital da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) para uma plateia de cooperativistas atentos ao tema. 

Autora dos livros Desmistificando a Inteligência Artificial e A Inteligência Artificial irá suplantar a inteligência humana?, Dora considera a IA uma “tecnologia de propósito geral”, que muda a lógica de funcionamento da economia e sociedade. São tecnologias que, segundo ela, permeiam todos os aspectos da humanidade e têm impacto global, acelerando o progresso econômico e as relações sociais. 

“Para vocês terem ideia, as três últimas tecnologias de propósito geral foram o carvão, que começou a Revolução Industrial, no século 18; a eletricidade, na segunda fase da Revolução Industrial; e a computação. E agora, no século 21, veio a Inteligência Artificial”,

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Segundo Dora Kaufman, no mundo dos negócios, a grande mudança com a implantação da IA é a migração de um mundo de máquinas programadas para um mundo de máquinas probabilísticas – uma vez que a técnica que permeia todas as ferramentas de IA é um modelo estatístico de probabilidade. 

“Por que a Inteligência Artificial é estratégica hoje?”, provocou a especialista a uma plateia repleta de interessados no tema. A especialista explicou que, há pelo menos 30 anos, a humanidade baseia seu processo de decisão em informações confiáveis.

“É assim que funciona entre as pessoas e nas organizações. Não há gestor que não procure informação para decidir”, reforçou. 

De uns anos para cá, a novidade foi o surgimento da sociedade hiperconectada. Hoje, grande parte da interação e comunicação se dá em ambiente digital ou equipamento digital. E, quando as pessoas interagem dessa forma, há geração de dados – o chamado big data.

“Se eu sempre tomei decisões com base em informações e hoje eu tenho uma base extraordinária de informação, de dados, qual é o desafio? Como extrair insights e informações úteis da big data. Se eu não tenho uma técnica que me permita lidar com esse grande volume de dados, ele não serve para nada. Ele fica lá e eu não tenho como interagir com ele”, afirmou.

“Isso mostra porque a Inteligência Artificial se mostra cada vez mais importante e é a tecnologia estratégica do século 21″, completou, destacando que os modelos estatísticos tradicionais têm uma limitação para lidar com grande número de dados, enquanto a IA viabiliza um modelo econômico baseado nessas informações.

Apesar de revolucionária, a Inteligência Artificial, entretanto, não é solução para tudo, na avaliação da especialista. “Ela não é simples. Para implementação, é preciso mudar processos e a cultura. Além disso, é fundamental ter dados. No Brasil, a maior parte do uso da IA adota soluções já usadas no mercado, e não soluções desenvolvidas internamente. Mesmo assim, para adaptar essas soluções para o seu negócio, é preciso ter dados próprios. Sem dados, não há como ter soluções adaptadas”, ponderou. 

SOBRE O CONCRED

O 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred) é um evento organizado pela Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras); correalização do SICOOB; apoio institucional do Sistema Ocemg e do Banco Central do Brasil; patrocínio master do Sistema OCB; patrocínio do Sebrae e BNDES — banco de desenvolvimento do Governo Federal. A iniciativa conta com investimento de todos os sistemas de cooperativas de crédito e outros parceiros, totalizando cerca de 70 organizações que acreditam no evento e no poder transformador do coop financeiro.